Thursday 13 February 2014

Reis, digo, Homens
















































































http://www.youtube.com/watch?v=xZ9KlXCkb2s
Nelson Mandela

[ao comandante da prisão de Robben Island, 22/7/1969]
O meu filho mais velho, Madiba Thembekile, com 24 anos de idade, morreu na Cidade do Cabo no dia 13/7/1969, como resultado das lesões sofridas num acidente de viação.
Gostaria de participar, a expensas minhas, nas cerimónias fúnebres 
e prestar uma última homenagem à sua memória.
...
Devo acrescentar que a última vez que vi o filho que acabo de perder 
foi há mais de cinco anos, pelo que poderá compreender a ansiedade
com que espero poder estar presente no funeral.

[carta a Nolusapho Irene Mkwayi, 29/9/1969]
... o meu pedido foi simplesmente ignorado
e nem sequer se dignaram ter a amabilidade de me responder.
... não só fui privado da oportunidade de ver pela última vez 
o meu filho mais velho e meu amigo,
o orgulho do meu coração; como sou mantido na mais completa ignorância
em relação a tudo o que se refere a ele e a este assunto.

[a Irene Buthelezi, 3/8/1969]
Perdi a minha mãe há apenas 10 meses.
No dia 12 de Maio a minha mulher foi detida por tempo indeterminado
ao abrigo da Lei contra o Terrorismo, deixando para trás
filhas pequenas como orfãs virtuais,
e agora é o meu filho mais velho que parte para sempre.
A morte é um desastre aterrador, independentemente da causa e da idade da vítima.
Quando se aproxima gradualmente, como no caso de uma doença normal,
a família mais chegada já está à espera da morte
e o golpe pode não ser tão devastador quando finalmente se abate sobre nós.
Mas quando somos atingidos pela notícia de que a morte 
levou uma pessoa vigorosa e saudável no auge da vida,
só quem passa pela experiência pode avaliar
quão paralisante ela pode ser.
... Thembi não foi o primeiro filho que perdi. 
Há muito tempo, nos anos 40 perdi uma filha de nove meses.
Tinha sido hospitalizada 
e estava a registar uma evolução favorável 
quando subitamente a a situação se agravou 
e acabou por morrer nessa mesma noite.

Conversations with Myself


http://www.youtube.com/watch?v=-RKE_xouTkw
Barack Obama


http://www.youtube.com/watch?v=Ybgg4H4zTHo
Roberto Benigni


http://www.youtube.com/watch?v=akRBr-fNWOg
Chris Gardner


http://www.youtube.com/watch?v=VDgcpH7au3M
Sean Penn


http://www.youtube.com/watch?v=O-Mu454Svpk
Bono


Bob Dylan, in a way, has always been there for me.
His music, and occasionally the man himself.
No artist alive or dead has meant so much to me.
I remember him saying to me once how lucky I was to have a band.
I asked him why did he say that. It was at the height of Joshua Tree madness.
... There was a lot coming at us, just disorienting stuff. And he said: 
"Imagine going through all that you're going through, now, on your own."

[in conversation with Michka Assayas]



http://www.youtube.com/watch?v=vqr7pOhDtRs
Bryan Adams



http://www.youtube.com/watch?v=6eDaMSBJF4w
Phil Collins







Quando falo de pai e de mãe, 
é preciso que a gente se entenda, 
não falo do senhor fulano de tal ou da senhora fulana de tal 
que vem na cédula pessoal ou no bilhete de identidade. 
Falo da função maternal e da função paternal. 
A função maternal é a função envolvente, 
primitiva, da mãe que envolve o bebé e lhe dá tudo o que ele precisa, 
que é todo o universo dele. 
Mas, ao mesmo tempo, é um universo que não lhe dá abertura 
para outros universos, para outras galáxias. 
Enquanto que a função paternal é justamente o que vem interferir, 
o que vem separar. Quando ele chega a casa, à noite, 
(isto é mais na nossa cultura), leva a senhora mãe, a senhora função maternal, 
para o quarto dele, e pronto, o bebé fica separado, 
e a sentir a falta daquele calor... É a função separadora.
+
... o prazer se encontra sobretudo no funcionar internamente.
A nossa cultura ocidental é muito voltada para o exterior,
é muito feita de agitação, das agências de viagens que nos preparam tempos de ócio,
dos clubes do disco, das cassettes, dos vídeos e dessa tralha toda.
Há cada vez menos funcionamento interno.
Mas para nós, psicanalistas, o grande segredo do viver,
na nossa experiência, é o sentimento de se funcionar mentalmente bem.
+
... é a condição para ela [criança] não ficar idiota! A
 linguagem serve para uma pessoa dizer aquilo que sente,
mas serve fundamentalmente para uma pessoa esconder aquilo que sente.
Ninguém suportaria viver esfolado, sem pele, 
ninguém suportaria que os outros vissem todas as suas ideias.
O que é fundamental para a nossa existência 
e para a nossa coexistência, para a nossa relação
e para a nossa constituição como pessoas,
é termos um segredo, é termos uma vida interior.


João dos Santos
Se Não Sabe, Porque É Que Pergunta?
1988, Assírio & Alvim 




... se é a nossa honestidade, a nossa sinceridade.
Eu e o Tê apresentamo-nos sem subterfúgios, 
talvez isso seja um elo condutor entre todas as gerações.
+
Mas em miúdo nunca fui atrás de rallies como os outros.
Aliás, por não alinhar nessas excursões,
acabei um pouco isolado da rapaziada. 
As pessoas iam atrás dos rallies e iam para as discotecas
e eu fechava-me no mundo da viola,
a tocar e a ouvir, a tocar e a ouvir outra vez,
a gravar e a ouvir, 
e sempre à procura de melhorar a música.

Rui Veloso
Os Vês pelos Bês
Ana Mesquita, Prime Books, 2006




Conhecer, amar os outros, reconcilia-nos connosco próprios.
É bom estar fascinado pela beleza do mundo,
que cor damos ao ar, que sabor tem a água, 
as pequenas coisas, todas as pessoas, o nome dos outros sobre nós inscrito.
O encantamento mais profundo vive longe no canto secreto da vida,
e é preciso descobri-lo lentamente, deixá-lo sair,
transportá-lo ao colo, como aquilo que é frágil,
tal e qual um tesouro, 
pois todos os momentos quando bem-vistos, têm tudo ou quase tudo, 
até mistério, do que podemos sentir para se ser feliz.

Pedro Strecht
Interiores - Uma ajuda aos pais sobre a vida emocional dos filhos
2003, Assírio & Alvim









José Saramago





«Chó!»
O grito varou de alto a baixo os dois recrutas que cantavam ao fundo da loja. Apanhou-os muito unidos, com o braço pelos ombros um do outro, e cortou-lhes a voz. Estavam sentados num banco comprido, como duas crianças amigas
ou como os casais de namorados ao domingo nos jardins.
+
Ele e o outro servente andavam assombrados com as dores fantasmas, com os membros fantasmas que continuam a pesar e a doer, mesmo depois de desligados do corpo a que pertenceram e de apodrecerem, numa fossa ou num balde de esmalte, ainda com botas e tudo.
+
É manhã clara. As crianças esperam na areia molhada a colheita dos caçadores silenciosos. Lançados pelo ar, os polvos caem-lhes aos pés e elas torturam-nos, batendo-os contra as pedras, ou brincam com a agonia desses frios habitantes do mar, experimentando a força das ventosas a colarem-se-lhes à palma das mãos.

José Cardoso Pires
O Hóspede de Job
1963, Dom Quixote





HOMENS À BEIRA-MAR

Nada trazem consigo. As imagens
Que encontram, vão-se delas despedindo.
Nada trazem consigo, pois partiram
Sós e nus, desde sempre, e os seus caminhos
Levam só ao espaço como o vento.

Embalados no próprio movimento,
Como se andar calasse algum tormento,
O seu olhar fixou-se para sempre
Na aparição sem fim dos horizontes.

Como o animal que sente ao longe as fontes,
Tudo neles se cala pra escutar
O coração crescente da distância,
E longínqua lhes é a própria ânsia.

É-lhes longínquo o sol quando os consome,
É-lhes longínqua a noite e a sua fome,
É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço
Que deixam pela areia, passo a passo.

Porque o calor do sol não os consome,
Porque o frio da noite não os gela,
E nem sequer lhes dói a própria fome,
E é-lhes estranho até o próprio rasto.

Nenhum jardim, nenhum olhar os prende.
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta,
O apelo do silêncio que os arrasta,
As aves estrangeiras que os trespassam,
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Poesia
1944































When I heard at the close of the day how my name had been receiv’d with plaudits in the capitol, still it was not a happy night for me that follow’d,
And else when I carous’d, or when my plans were accomplish’d, still I was not happy,
But the day when I rose at dawn from the bed of perfect health, refresh’d, singing, inhaling the ripe breath of autumn,
When I saw the full moon in the west grow pale and disappear in the morning light,
When I wander’d alone over the beach, and undressing bathed, laughing with the cool waters, and saw the sun rise,
And when I thought how my dear friend my lover was on his way coming, O then I was happy,
O then each breath tasted sweeter, and all that day my food nourish’d me more, and the beautiful day pass’d well,
And the next came with equal joy, and with the next at evening came my friend,
And that night while all was still I heard the waters roll slowly continually up the shores,
I heard the hissing rustle of the liquid and sands as directed to me whispering to congratulate me,
For the one I love most lay sleeping by me under the same cover in the cool night,
In the stillness in the autumn moonbeams his face was inclined toward me,
And his arm lay lightly around my breast – and that night I was happy.

Walt Whitman
Leaves of Grass
1st edition: 1855







Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
- Katharsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto

Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas
1977




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