Friday 28 February 2014

"Roles" ou Funções














Mother - Mãe (de família; e não mero grau de parentesco)
Pessoa que me orienta porque eu não tenho consciência das alternativas que tenho na vida. Alguém experiente e com sabedoria suficiente para me poder ajudar a ser pessoa autónoma, ou ainda mais autónoma. Alguém que me ama incondicionalmente (seja qual for a circunstância). Alguém que me dá tudo o que eu preciso, e não mais do que isso. 
Educadora. Pessoa que se oferece como modelo inspirador para eu ir construindo a minha personalidade.

Sister - Irmã (de família; e não mero grau de parentesco)
Pessoa que foi educada comigo na mesma casa. Ama-me incondicionalmente e eu a ela.

Teacher / Therapist - Professora / Terapeuta
Pessoa independente que não me ama incondicionalmente. Oferece os seus conhecimentos em contexto próprio. Existem tempos e lugares determinados a que eu recorro porque quero aprender com ela sobre certas matérias em que lhe reconheço autoridade. A Professora não escolhe os alunos, ensina qualquer pessoa que deseje aprender com ela. A Terapeuta tem uma função adicional de cura, ou seja, de remediar um determinado mal. (Também podemos reconhecer que o mal que a Professora cura é a Ignorância.) A Terapeuta também presta o seu serviço a qualquer pessoa que deseje ser curada por ela, não há uma selecção tipo "curo apenas aqueles que me são especialmente queridos porque têm certos traços de personalidade em comum comigo" (como acontece na Amiga ou na Mulher).

Lover - Mulher / Namorada
Pessoa que me ama incondicionalmente porque nos escolhemos livremente em virtude de reconhecermos o mesmo objectivo de vida, semelhanças de personalidade, de reconhecermos que somos insubstituíveis um para o outro em determinada fase do percurso de vida. Relação íntima de corpo e "alma" (personalidade) que pode durar 1 semana, 1 mês, 1 ano, 10 anos, ou até à morte. Pessoa que me desafia constantemente a crescer emocionalmente e intelectualmente, quer quando estamos juntos, quer quando estamos ausentes. Pessoa autónoma mas que aceita que o seu destino está condicionado pelas acções e destino da outra, portanto, não é completamente independente, apesar de ter escolha individual e liberdade de escolha.

Best Friend - Amiga
A mesma relação que Lover, mas sem intimidade física. As semelhanças de personalidade são menos fortes e os intervalos de presença são maiores, logo, há muito mais independência e menor intimidade.



Em todas estas funções, existe Amor.
Em todas estas funções existe crescimento pessoal recíproco.
A relação é feita entre dois indivíduos que são sensíveis um ao outro de acordo com a função que desempenham. A relação é sempre influenciada pelas personalidades e constrói-se pela acção individual.

Não entendo que Professora seja aquela que ensina numa sala de aula.
Não entendo que Terapeuta seja aquela que cura numa consulta.
Não entendo que Mãe seja aquela que deu à luz e dá alimento.
Não entendo que família seja parentesco.
Não entendo que amizade seja diálogo e encontro espontâneo.
Não entendo que namoro / casamento seja diálogo e encontro periódico.
Não entendo que mulher seja sensibilidade feminina e corpo feminino.
Não entendo que homem seja sensibilidade masculina e corpo masculino.
Entendo que uma mulher é aquela pessoa. Não é só a função mulher, ou a função Mãe.
Entendo que um homem é aquela pessoa. Não é só a função homem, ou a função Professor.
















That I Would Be Good


One of Us


Nobody Does It Better


Powerless


You Don't Know Me


Original of the Species




Thursday 27 February 2014

Daniel Sampaio e João dos Santos 1+1=2 a visão de sempre sem iludir nem empobrecer












































[da Introdução - por Daniel Sampaio]

Conheci João dos Santos ainda estudante,
quando o convidei a participar num colóquio organizado pela cadeira de Psicologia 
Médica da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Com ele convivi muitas vezes, em diversos contextos,
...
num entrecruzar permanente de saberes diversos 
e de experiências emocionais inesquecíveis.
Recordo-o quase todos os dias.
Ainda há um mês, perante um doente agressivo,
lembrei a narrativa que lhe fiz de um homem enorme que me ameaçava fisicamente
quando eu, jovem interno de Psiquiatria,
achava que o saber livresco dava resposta a todas as questões.
Olhou-me com um sorriso terno e disse-me do fundo dos seus olhos escuros:

Daniel, 
você não precisa fazer mais do que imaginar 
esse homem como uma criança perdida.
Já o conseguiu ver na infância?

A sessão seguinte transformou-me como terapeuta e, perdido o medo,
fui capaz de me envolver afectivamente com o doente e ajudar a criar alternativas necessárias à sua recuperação.
...
Foi com João dos Santos que aprendi a gostar de compreender a gente mais nova,
sem me identificar romanticamente com ela
e sem esquecer a importância dos seus pais [...]
com ele aprendi também a importância do trabalho de cooperação
entre Técnicos de Saúde Mental e professores
...
algumas palavras suas:

É necessário sobretudo exigir das autoridades 
um mínimo de coerência e eficácia na acção 
para que as crianças tenham direito à
habitação e alimento, saúde e educação. 
Mas é necessário também tomar consciência de que actualmente os pais tendem a exigir,
e as autoridades a conceder,
a criação de instituições que resolvam tecnicamente 
o problema social dos que trabalham, 
sem a sua participação na elaboração de ideias, directrizes e programas,
que integrem a acção dessas instituições 
numa base ideológica comum dos respectivos utentes
Os pais tendem a abdicar da sua função educativa 
e perdem dessa maneira a possibilidade de estabelecer com os filhos 
uma relação espontânea e afectiva, 
estimulante para o seu desenvolvimento

...

Sempre me impressionou o esquecimento 
a que tem sido votada a obra de João dos Santos.
Centenas de professores encontrariam respostas 
aos seus dilemas se lessem os seus textos,
dezenas de psiquiatras da infância e adolescência 
ajudariam os mais jovens a pensar 
e milhares de pais viveriam menos angustiados o seu dia-a-dia.

Pensava eu assim até conhecer Eulália Barros, algures na década de 80.
Nunca encontrei ninguém que tivesse interiorizado tão profundamente 
a mensagem do seu mestre e a actualizasse com criatividade e rigor.

...

Nunca encontrei ninguém tão ferozmente anti-ideias feitas,
nem alguém que se fatigasse tanto com a hipocrisia e o falso modernismo.

...

O conceito de «andar na escola» está cada vez mais posto em questão.
Se perguntarmos a muitos jovens o que ele significa,
encontramos respostas bem diversas. 
Para João dos Santos

andar na escola 
é uma expressão muito adequada para explicar 
que andávamos por lá à procura de uns recantos, 
nos corredores, na escada e na "casinha",
onde a nossa imaginação florescesse, 
ou andávamos a fazer jogo dramático sem sabermos. 
Era bom, era só bom

Algumas crianças e jovens de hoje não subscreveriam este texto.
Emperrados em cargas horárias pesadas, 
movimentando-se em edifícios cinzentos ou isolados nos seus problemas 
sem possibilidade de falarem com adultos, 
a escola vale às vezes só pelo convívio com os amigos 
e pelo espaço de liberdade que ainda às vezes consegue conferir.
Às crianças mal comportadas na escola 
aplica-se um «currículo alternativo» (que expressão terrível!) 
ou enviam-se ao psicólogo. 
Mais uma vez se esquece João dos Santos, que uma vez escreveu: 

...as perturbações do comportamento 
que chegam ao psicoterapeuta 
são aquelas que se tornam psicologicamente insuportáveis
pela educação do indivíduo.

Aos pais inseguros no seu papel parental 
recomenda-se vivamente que invadam o território escolar, 
numa confusão de papéis que procurei denunciar no meu livro 
«Vivemos livres numa prisão». 
Vale aqui também citar os Ensaios sobre Educação de João dos Santos:

Entendo que se devem organizar grupos de pais,
com ou sem representantes de professores, e vice-versa.
Mas não concordo que se misturem os interesses,
os princípios e as técnicas dos vários interessados
e que assim se confundam, em grupos polivalentes,
os vários modelos educativos. 
As crianças precisam de modelos 
claros, securizantes a vários níveis 
e coerentes.

As profundas alterações sofridas por Portugal nos últimos vinte anos
não tornaram menos actual a mensagem de João dos Santos 
e esta é, sem dúvida, a primeira conclusão a tirar deste livro de Eulália Barros. 
Os três preconceitos em Educação alimentados pelos pais 
e que Santos escreveu no seu livro A Caminho de uma Utopia - um Instituto da Criança, mantêm toda a actualidade:

1 - A crença de que a Escola pode resolver o que se não fez ou perturbou a criança antes da idade escolar.

2 - A esperança de que o acolhimento afectivo que eventualmente falta à criança no meio familiar possa ser compensado pela escola e pelos professores.

3 - A ideia de que a aprendizagem das letras e dos "números", da leitura e das operações aritméticas é possível sem a prévia aprendizagem do convívio, das trocas afectivas e do diálogo que se estabelece na família.

Direi mesmo que o crescente número de crianças 
com dificuldades de envolvimento afectivo parental 
leva a que por vezes se exija aos professores o sarar de uma ferida praticada anos antes,
através do penso rápido 
de uma didáctica mais agida que pensada e cada vez mais inglória.


Daniel Sampaio
Novembro 1998




























OK GO In Control














escolheria eu 
para como se deve, julgar o artista pela obra,
a sua pequena Casa da Praia,
que recebe as crianças que os sábios polivalentes
(deveria dizer-se poluivalentes)
classificam de desajustadas às escolas
e logo demonstram, porque aí se sentem livres
e em consonância com os Mestres


Professor Agostinho da Silva, 1984






Places






http://www.youtube.com/watch?v=K0EpeX8tSoA
Garbage - Stupid Girl




you are my best girl
it's just you and me now
when i'm sightseeing
sorry sorry sorry but you wait




http://www.youtube.com/user/U2VEVO
I'm Not Invisible
Not Even Better Than The Real Thing




Wednesday 26 February 2014

Higher Ground




O mar rolou as suas ondas negras
Sobre as praias tocadas de infinito.

Sophia de Mello Breyner Andresen