Friday 7 February 2014

Adriano Moreira



Susana Torrão      Como correu a sua incursão no governo de Salazar?

Não durou muito tempo.
Todas as reformas mexem em interesses adquiridos. 
E é natural que estes reajam, não se pode esperar outra coisa. 
Quando conheci o presidente do Conselho olhava para ele
e via o que se calhar os meus alunos vêem hoje quando olham para mim: 
um velho (risos). 
Houve vários incidentes internos e ele chamou-me para me dizer 
que até ali tinha apoiado as minhas reformas mas não poderia continuar a fazê-lo 
e que tínhamos de mudar de política. 
E eu respondi-lhe, e estas palavras são textuais: 
"Vossa excelência acaba de mudar de ministro." 

Como vê a situação do ensino superior e da investigação em Portugal?
É preciso ter muita cautela e não fazer do orçamento a ideologia do Estado. 
Há um fenómeno em Portugal: a grande reforma do ensino superior foi feita por Veiga Simão,
em 1973. Começou a ser executada em 1974, quando já não existia o país para que foi feita. 
E foi desenvolvida como se esse país existisse. 
Nunca se fez a articulação entre os conceitos do ensino de primeiro grau, secundário, universitário e das ordens. 
Os conceitos estão a entrar em conflito, 
quase sempre por causa do mercado de trabalho. 
Essa articulação de conceitos estratégicos é fundamental, 
porque há o risco de que as ordens evoluam para sindicatos, o que é outro perigo para o país.

Porquê?
Porque as ordens o que fazem 
é garantir a independência das regras da arte. 
Eu não posso consentir numa evolução que possa afetar a liberdade das regras da arte. 
Com o avanço da ciência e da técnica 
cada vez mais são necessárias menos pessoas e mais especializadas, 
o que provoca desemprego. 
Por isso é necessário que se faça com que a ciência e a técnica tenham um efeito na produtividade 
que permita uma sociedade de bem-estar. 
Para isso eu preciso de um saber-fazer muito cuidadoso e bem acompanhado. 
Penso que a emigração da qualidade, 
cada vez mais acentuada, devia ser uma preocupação. 
Mas tenho fé nas minhas janelas de liberdade. 
Agora é necessária uma diplomacia muito forte, a ligação à segurança e à economia é fundamental. 
É uma frente de batalha cheia de esperança.


(entrevista completa na revista Montepio - Inverno 2013)



http://www.youtube.com/watch?v=tfw0KapQ3qw
Modern Times - Charlot - 1936

http://www.youtube.com/watch?v=3Sm6lE7DB9M
Xutos e Pontapés - Carta Certa





 



 


Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ómnibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios
Álvaro de Campos - Ode Triunfal




No comments:

Post a Comment