Os Blocos Musicais
Além dos livros de psicologia,
uma das coisas que mais me ajudou a
combater
o isolamento de mãe inexperiente
numa terra deserta foi a internet
sobretudo os filmes do Pocoyo no
Youtube
e
a rádio on-line.
A rádio que eu ouvia transmitia frases de
vários autores
(artistas, cientistas, filósofos)
que me inspiravam muito, ditas pelo
locutor Pedro Tojal.
As músicas dessa rádio também eram
excelentes,
parecia que adivinhavam o meu
pensamento
quer nas canções, quer no alinhamento
da playlist,
sobretudo nos primeiros meses de funcionamento;
a certa altura, eu já não gostava tanto
e as frases também se começaram a repetir
muito.
Eu até pensei candidatar-me a recolher
frases para serem lidas na emissão, mas nunca tentei.
Parecia-me que o objectivo da rádio era
ajudar com simplicidade;
ofereciam-se para pagar despesas dos
ouvintes
desde que a sua criatividade fosse
demonstrada.
Pedia-se um texto sobre essa despesa
que incluísse a expressão “FI fm”.
Os vencedores eram anunciados através
da emissão,
e para ganhar o dinheiro teriam de
ligar para a rádio e reclamar o prémio.
Quando o meu dia de ganhar chegou,
eu tive a certeza que ia ser chamada
nessa manhã.
E aconteceu.
Ofereceram-me a despesa que tive
com a concessionária da autoestrada A8
quando tive um pneu furado perto de
Torres Vedras.
Eu seguia com a Teresa para Fátima no
dia 13 de Maio de 2010.
Estava lá Bento XVI, na altura eu ainda
era católica.
Foi nessa mesma manhã que decidi ir, e
foi um dia de muita alegria.
Até o senhor que nos assistiu na A8 foi
muito competente e simpático.
Quando fui reclamar o prémio, cruzei-me
com o Senhor Pedro Tojal à porta da rádio
e conversámos.
Eu disse-lhe que gostava muito da FI fm
porque parecia que a intenção era
ajudar as pessoas
(ele confirmou)
e que apesar de não gostar tanto da
selecção de músicas como no início
– perguntei-lhe se tinham mudado de DJ,
e ele disse que não –
era ainda a rádio que eu mais ouvia.
Lembro-me de lhe ter falado nas frases
meditativas
e como elas me ajudavam muito mais do
que os textos da Rádio Renascença,
que eu achava muito pouco práticos.
Conversámos bastante os dois pois nesse
dia a Teresa tinha ficado em casa com o Pai.
Também me lembro que ele me perguntou
o que é que eu fazia quando não ouvia
rádio.
Eu disse-lhe que pensava e meditava ou
cuidava da Teresa,
nessa altura com quase 1 ano de idade.
Passado pouco tempo separei-me e já não
ouvia rádio com tanta assiduidade
porque passava os dias com a Teresa a
passear em Lisboa.
Lembrei-me desta história porque de
facto usar a intuição
foi sempre uma necessidade muito
importante para mim
quando precisei de agir com pouca
informação.
Quando cuidamos de um bebé cujo meio de
comunicação principal
é o simples movimentar do corpo,
essa “ferramenta” é um ganho que
aplicamos a toda a realidade
e como eu tinha bons resultados com a
minha experiência intuitiva,
continuei sempre a desenvolver a minha capacidade.
De facto, eu conseguia antecipar muitos
dos movimentos e desejos da Teresa
por estar tanto tempo com ela.
Ela certamente evitou muitos “azares”
por ter alguém que a conhecia bem perto de si
e por estar tanto tempo em sua própria
casa (não numa creche ou numa ama).
Por outro lado, devido à minha
insegurança pois nunca tinha cuidado de crianças,
houve coisas que eu não me senti com
liberdade de lhe permitir fazer,
e portanto terei provocado atraso na
experiência da Teresa em
gatinhar, comer e andar sozinha.
Na intuição identifico dois elementos:
lógica e emoção.
A lógica permite identificar as
variáveis da situação em que é preciso agir,
bem como o momento em que é necessário
decidir.
A emoção recai sobre essas variáveis.
A emoção é tanto mais profunda e
natural quanto melhor se utiliza a intuição.
Na intuição há também elementos que são
inconscientes,
mas relativamente a esses só podemos
tentar reduzir a inconsciência
como dizia o Arpad Szenes.
A curiosidade, o desejo de conhecer,
é o motor para desenvolver a intuição;
não é a pressão de ter de decidir;
não é o desejo de controlar as
circunstâncias,
mas sim utilizar as circunstâncias para
conhecer
e assim desenvolver a capacidade única
de reflectir,
a capacidade única de ver.
Não se ensina a intuição a ninguém.
Aprendi a usá-la sendo sensível às
necessidades e personalidade da Teresa
e simultaneamente sensível ao que eu
seria capaz de lhe dar de útil
para ela seguir caminho.
Precisei de estar atenta e confiante em
nós as duas
e atenta àquilo que no meu meio me
podia ajudar a ter confiança.
Eu sempre acreditei na música e no
cinema
como meio de expressão verdadeira de
emoções
por acreditar que eles são criados por
pessoas de sensibilidade infantil
ou seja, que se exprimem com
sinceridade e intensidade.
Os textos inspiradores ajudaram-me a
perceber que as minhas preocupações
eram semelhantes às preocupações de
outros adultos
e que portanto, apesar de estar
sozinha, eu não era muito diferente de outros
e que esses “outros” também precisavam
de recorrer frequentemente a idéias inspiradoras.
O Pocoyo ajudou-me a ter confiança
porque eu sentia que as imagens
que eu me devia preocupar em
proporcionar a um bebé pequeno
deviam ser simples e ricas
para ele se poder concentrar numa
mensagem visual,
num certo ritmo que pertence às coisas
e às pessoas.
O ritmo de vida influencia grandemente
a calma de um bebé.
O ritmo da música influencia-nos muito
se formos frágeis.
Assim, é importante ter uma casa em que
não há muita “tralha”,
em que há espaço para circular, para
pensar,
poucas cores berrantes, calma, alegria,
em que haja um sentimento de que não
estamos muito longe uns dos outros,
mas onde haja também privacidade.
É importante evitar passear (passear não é passar) por
lugares confusos
(por exemplo, casinos, estádios em dias
de jogo, restaurantes barulhentos,
festas em lugares pequenos com pessoas
barulhentas,
igrejas feias, movimentadas ou com um
ambiente soturno,
bares, supermercados, museus enormes
com muitos elementos
tipo Palácio da Ajuda, exposições da
FIL, lugares com cheiro intenso).
Ao contrário, é importante passear por
lugares bonitos pois a beleza não cansa,
esclarece. Exemplos: lugares com
árvores e vegetação bem cuidada ou selvagem,
praia, beira-mar, ruas pouco
barulhentas, ruas bonitas,
igrejas bonitas e vazias tipo
Jerónimos, ruas amplas,
mercados com ambiente animado e alegre
tipo Feira (5ªFªs) da Malveira.
A solidão é necessária para desenvolver
a intuição
– caso contrário, seguimos alguém que
nos dá uma resposta
ou com a confusão não entendemos sequer
que é precisa uma resposta
(a isto chamo ignorância, que é o
oposto da intuição,
pois a intuição é conhecimento).
A solidão é o desconhecido nesse
momento que nos pede presença.
A solidão é o convento, é a cela, é o
anonimato na multidão, é a ilha, é a casa,
é o fechar-me porque fui atingida,
a morte, é o abandono, é o furo na estrada,
é o mergulho em profundidade,
é o diálogo com Deus, o medo, a
coragem, a independência, a desobediência, o espaço.
“E agora, por onde sigo?”. Por onde
vais intuição dar-me um caminho?
confusão, dispersão, distração
Benjamin Button
Casablanca (1942)
Iwo Jima, Eastwood
equilíbrio
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