Monday 24 February 2014

Pocoyo e a Intuição






Os Blocos Musicais




Além dos livros de psicologia,
uma das coisas que mais me ajudou a combater
o isolamento de mãe inexperiente
numa terra deserta foi a internet
sobretudo os filmes do Pocoyo no Youtube
e a rádio on-line.
A rádio que eu ouvia transmitia frases de vários autores
(artistas, cientistas, filósofos)
que me inspiravam muito, ditas pelo locutor Pedro Tojal.
As músicas dessa rádio também eram excelentes,
parecia que adivinhavam o meu pensamento
quer nas canções, quer no alinhamento da playlist,
sobretudo nos primeiros meses de funcionamento;
a certa altura, eu já não gostava tanto
e as frases também se começaram a repetir muito.
Eu até pensei candidatar-me a recolher frases para serem lidas na emissão, mas nunca tentei.
Parecia-me que o objectivo da rádio era ajudar com simplicidade;
ofereciam-se para pagar despesas dos ouvintes
desde que a sua criatividade fosse demonstrada.
Pedia-se um texto sobre essa despesa que incluísse a expressão “FI fm”.
Os vencedores eram anunciados através da emissão,
e para ganhar o dinheiro teriam de ligar para a rádio e reclamar o prémio.
Quando o meu dia de ganhar chegou,
eu tive a certeza que ia ser chamada nessa manhã. 
E aconteceu.
Ofereceram-me a despesa que tive
com a concessionária da autoestrada A8
quando tive um pneu furado perto de Torres Vedras.
Eu seguia com a Teresa para Fátima no dia 13 de Maio de 2010.
Estava lá Bento XVI, na altura eu ainda era católica.
Foi nessa mesma manhã que decidi ir, e foi um dia de muita alegria.
Até o senhor que nos assistiu na A8 foi muito competente e simpático.
Quando fui reclamar o prémio, cruzei-me com o Senhor Pedro Tojal à porta da rádio
e conversámos.
Eu disse-lhe que gostava muito da FI fm
porque parecia que a intenção era ajudar as pessoas 
(ele confirmou)
e que apesar de não gostar tanto da selecção de músicas como no início
– perguntei-lhe se tinham mudado de DJ, e ele disse que não –
era ainda a rádio que eu mais ouvia.
Lembro-me de lhe ter falado nas frases meditativas
e como elas me ajudavam muito mais do que os textos da Rádio Renascença,
que eu achava muito pouco práticos.
Conversámos bastante os dois pois nesse dia a Teresa tinha ficado em casa com o Pai.
Também me lembro que ele me perguntou
o que é que eu fazia quando não ouvia rádio.
Eu disse-lhe que pensava e meditava ou cuidava da Teresa,
nessa altura com quase 1 ano de idade.
Passado pouco tempo separei-me e já não ouvia rádio com tanta assiduidade
porque passava os dias com a Teresa a passear em Lisboa.
Lembrei-me desta história porque de facto usar a intuição
foi sempre uma necessidade muito importante para mim
quando precisei de agir com pouca informação.

Quando cuidamos de um bebé cujo meio de comunicação principal
é o simples movimentar do corpo,
essa “ferramenta” é um ganho que aplicamos a toda a realidade
e como eu tinha bons resultados com a minha experiência intuitiva,
continuei sempre a desenvolver a minha capacidade.
De facto, eu conseguia antecipar muitos dos movimentos e desejos da Teresa
por estar tanto tempo com ela.
Ela certamente evitou muitos “azares” por ter alguém que a conhecia bem perto de si
e por estar tanto tempo em sua própria casa (não numa creche ou numa ama).
Por outro lado, devido à minha insegurança pois nunca tinha cuidado de crianças,
houve coisas que eu não me senti com liberdade de lhe permitir fazer,
e portanto terei provocado atraso na experiência da Teresa em
gatinhar, comer e andar sozinha.

Na intuição identifico dois elementos: lógica e emoção.
A lógica permite identificar as variáveis da situação em que é preciso agir,
bem como o momento em que é necessário decidir.
A emoção recai sobre essas variáveis.
A emoção é tanto mais profunda e natural quanto melhor se utiliza a intuição.
Na intuição há também elementos que são inconscientes,
mas relativamente a esses só podemos tentar reduzir a inconsciência
como dizia o Arpad Szenes.

A curiosidade, o desejo de conhecer,
é o motor para desenvolver a intuição;
não é a pressão de ter de decidir;
não é o desejo de controlar as circunstâncias,
mas sim utilizar as circunstâncias para conhecer
e assim desenvolver a capacidade única de reflectir,
a capacidade única de ver.
Não se ensina a intuição a ninguém.
Aprendi a usá-la sendo sensível às necessidades e personalidade da Teresa
e simultaneamente sensível ao que eu seria capaz de lhe dar de útil
para ela seguir caminho.
Precisei de estar atenta e confiante em nós as duas
e atenta àquilo que no meu meio me podia ajudar a ter confiança.

Eu sempre acreditei na música e no cinema
como meio de expressão verdadeira de emoções
por acreditar que eles são criados por pessoas de sensibilidade infantil
ou seja, que se exprimem com sinceridade e intensidade. 
Os textos inspiradores ajudaram-me a perceber que as minhas preocupações
eram semelhantes às preocupações de outros adultos
e que portanto, apesar de estar sozinha, eu não era muito diferente de outros
e que esses “outros” também precisavam de recorrer frequentemente a idéias inspiradoras.

O Pocoyo ajudou-me a ter confiança porque eu sentia que as imagens
que eu me devia preocupar em proporcionar a um bebé pequeno
deviam ser simples e ricas
para ele se poder concentrar numa mensagem visual,
num certo ritmo que pertence às coisas e às pessoas.
O ritmo de vida influencia grandemente a calma de um bebé.
O ritmo da música influencia-nos muito se formos frágeis.
Assim, é importante ter uma casa em que não há muita “tralha”,
em que há espaço para circular, para pensar,
poucas cores berrantes, calma, alegria,
em que haja um sentimento de que não estamos muito longe uns dos outros,
mas onde haja também privacidade.

É importante evitar passear (passear não é passar) por lugares confusos
(por exemplo, casinos, estádios em dias de jogo, restaurantes barulhentos,
festas em lugares pequenos com pessoas barulhentas,
igrejas feias, movimentadas ou com um ambiente soturno,
bares, supermercados, museus enormes com muitos elementos
tipo Palácio da Ajuda, exposições da FIL, lugares com cheiro intenso).

Ao contrário, é importante passear por lugares bonitos pois a beleza não cansa,
esclarece. Exemplos: lugares com árvores e vegetação bem cuidada ou selvagem,
praia, beira-mar, ruas pouco barulhentas, ruas bonitas,
igrejas bonitas e vazias tipo Jerónimos, ruas amplas,
mercados com ambiente animado e alegre tipo Feira (5ªFªs) da Malveira.   

A solidão é necessária para desenvolver a intuição
– caso contrário, seguimos alguém que nos dá uma resposta
ou com a confusão não entendemos sequer que é precisa uma resposta
(a isto chamo ignorância, que é o oposto da intuição,
pois a intuição é conhecimento).
A solidão é o desconhecido nesse momento que nos pede presença.
A solidão é o convento, é a cela, é o anonimato na multidão, é a ilha, é a casa,
é o fechar-me porque fui atingida,
a morte, é o abandono, é o furo na estrada, é o mergulho em profundidade,
é o diálogo com Deus, o medo, a coragem, a independência, a desobediência, o espaço.
“E agora, por onde sigo?”. Por onde vais intuição dar-me um caminho?







confusão, dispersão, distração







Benjamin Button







Casablanca (1942)






Iwo Jima, Eastwood













































equilíbrio








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