Sunday 20 April 2014

quanto mais, melhor






não vou
posso incomodar
não escrevo
posso incomodar
não digo
posso incomodar
não dou
posso incomodar
estou à espera
que sintam a minha falta
de preferência o maior número possível de pessoas




a ti que és morno, vomito-te

























everything i do i do it for you



Hitler intentions exposed by Roosevelt



entre dos tierras



 





Saturday 19 April 2014

enorme







se tu ferido fraco é que me curas
vem
eu sou tantas feridas / não fraqueza
és a presença não o sonho
nem paisagem nem poemas
não nem as mentiras te escondem
vejo-te não te obedeço
sou a escolha que me pertence - resistência
não um território qualquer / cadela
/ desconhecido em naufrágio a arder deriva
sou em golpes tornada humana
vida verdadeira no corpo âncora
corrente de arrasto mas o mar não esfola







Friday 18 April 2014

when the beating of your heart echoes the beating of the drums



SER CAPAZ DE RECONHECER A BELEZA


Fomos criados para a beleza, para sermos capazes de a ver nas pessoas. Para isso acontecer, elas e eu temos de a possuir e de saber comunicá-la.

verdadeiro emissor – verdadeiro receptor

Quem recebe a beleza de outra pessoa possui beleza dentro de si, por isso é capaz de a ver. É também capaz de separar a beleza do que não o é.
A beleza cria-se pelo amor. A beleza não é um atributo que se coloca exteriormente numa pessoa, nasce de uma experiência duradoura que ela foi capaz de interiorizar. Se eu sou capaz de escrever textos que te comovem, significa que eles comunicam uma experiência de que tu andavas à procura – uma experiência de que tu foste capaz de sentir necessidade. Se eu sou capaz de apreciar o que tu fazes, significa que eu procurava aquilo que tu foste capaz de transmitir e que realiza uma expectativa que eu pressentia possível de encontrar em alguém (sonho). A minha expectativa é originada pelas fontes em que eu confio. Podem ser músicos, escritores, família, amigos, cineastas, fotógrafos, professores, médicos, empregados de balcão, modelos fotográficos, empreiteiros de construção civil, jardineiros, reclusos, políticos. Aquilo que estas pessoas são para mim é fruto daquilo que elas fazem, sobretudo do modo como fazem.

Exemplos (as palavras escritas a bold são as que eu atribuo importância comum e são ligação entre os textos, cuja ordem não é acaso, mas propositada):

Nesta obra de Clara Rojas eu encontrei um sentimento de força que ela conseguiu transmitir e que me ajuda a ter capacidade de enfrentar as minhas dificuldades em ser mulher num ambiente hostil; se eu não fosse mãe (como ela), não teria acreditado no que ela diz, teria interpretado como sentimentalismo:
«E decidi continuar a viver no meu querido país, com a minha família e a minha gente. A Colômbia é e será sempre uma nação de imensos contrastes e de imensas possibilidades, apesar das profundas dificuldades que continua a atravessar. De maneira que há reptos e desafios para enfrentar e há coração, vida e juventude para o fazer. O resto, com a ajuda de Deus, virá por acréscimo.» (Memórias do Meu Cativeiro – Refém das FARC, 2009, Caleidoscópio)

















A maneira como ela organizou o livro é também reveladora da sua integridade como pessoa, e, portanto, ajuda a que eu entenda e assimile o seu relato. Os autores egoístas não se preocupam em adaptar a forma do que fazem (escrevem, cantam, servem cafés, ...) às necessidades do seu público. A sua preocupação é dar, não é comunicar. A pessoa que só quer dar torna-se egoísta e ignorante com o passar do tempo, consequentemente, o seu gosto de viver vai diminuindo.Para a pessoa que ama, não comunicar torna-se muito doloroso - o que é, para mim, belo.  


«Iahweh disse a Moisés: “Por que clamas a mim? Dize aos israelitas que marchem. E tu, levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os israelitas caminhem em seco pelo meio do mar. Eu endureci o coração dos egípcios (...)”» (Livro do Êxodo, cap. 14)

«”Quanto a nós é de justiça; pagamos por nossos actos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.» (Evangelho de Lucas, cap. 23)

«Portanto, quer parecer-me que o baile de crianças era apenas um pretexto para os pais se juntarem a discutir assuntos de interesse para eles, muito casual e inocentemente. Eu era um forasteiro (...)» (Fiódor Dostoievski, A Árvore de Natal e o Casamento, séc. XIX, Estrofes e Versos)

«A princípio, sem saber como lidar com Adam concentrei-me na rotina. Nos primeiros dias via-o como alguém que era muito diferente de mim. Não tinha qualquer esperança de que pudéssemos comunicar porque ele não falava. As frequentes interrupções da respiração faziam-me pensar se ele seria capaz de respirar novamente. Às vezes gesticulava com as mãos e entrelaçava e soltava os dedos, o que me levava a crer que alguma coisa o estaria a incomodar, embora não imaginasse o que fosse. Quando caminhava com ele, tinha de me colar às suas costas e apoiá-lo com o meu corpo e os meus braços. Estava sempre com medo de que ele tropeçasse no meu pé, caísse e se magoasse. (...) E o que se diz de Jesus deve ser dito de Adam: “Todos os que o tocavam ficavam curados” (Evangelho de Marcos, cap. 6)» (Henri J. M. Nouwen, Adam, o Amado de Deus, 1997, Paulinas)

«É muito estranho, todos gostam de nós. É quase inacreditável toda a gente gostar de nós. Alegra-me, é um sinal que transmitimos mais alguma coisa além de canções. Não sei se é a nossa união, a nossa química especial. Se é a nossa honestidade, a nossa sinceridade. Eu e o Tê apresentamo-nos sem subterfúgios, talvez isso seja um elo condutor entre todas as gerações.» (Rui Veloso)

«Amar é o verbo revelado
Pela boca da divindade
Só deve ser invocado
Em caso de necessidade
Esse verbo não se explica
À luz crua da razão
Ele é a jóia mais rica
Da arca da criação
Podem-no pôr no altar
Frívolo duma canção
Praticá-lo até gastar
Mas não o invoquem em vão
Não invoquem o amor em vão
Não invoquem o amor em vão
Podem-no usar com rendas
Ou enfeites de algodão
Para tapar bem as fendas
Por onde sopra a solidão
Podem dá-lo ao desbarato
Podem-no até vender
Metê-lo no guarda-fato
E dá-lo à traça a comer
Podem-no usar no chão
Como capacho dos pés
Mas não o invoquem em vão
Não o sujem com clichés
Não invoquem o amor em vão
É pecado como deitar fora o pão
Não invoquem o amor em vão
É pecado como deitar fora o pão.»
Carlos Tê

«Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Nós, como as árvores são árvores
E como os regatos são regatos»
Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos

«Foste, por amor, criada
Formosa, bela e assim
Dentro do Meu ser, pintada.
Se te perderes, minha amada,
Alma, procura-te em Mim.»
Teresa de Ahumada e Cepeda, séc. XVI

«É preciso que os pais percebam que não podem educar senão com o seu próprio corpo, com a pessoa autêntica que são, com a sua cultura e ideologia.»
João dos Santos, 1978

«Deus, que é todas as perfeições, contra todos os hábitos imperfeitos da alma, com o fim de, transformando-a em si, a suavizar e pacificar e esclarecer, como o fogo faz no madeiro quando nele chega a entrar
João da Cruz, Viva Chama de Amor, 1584

«Que corda tocou no meu coração
aquela rapariga com o colar de oiro
e seios de marfim
cujo corpo incendiava o rio:
que se ergueu do banho
como a lua
e escovou para trás
os cabelos de ébano
que lhe caíam até à cintura
e se passeou
no negro crepúsculo –
oh minha alma,
que corda tocou ela
que ainda estou a tremer.»
Chandidas

«Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Penetrado por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.»

«Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é um gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas!»

Sophia de Mello Breyner Andresen


«Quanto ao essencial do trabalho de intervenção psicoterapêutico, ele implica a existência de uma base de relação, na qual possam existir:
- primeiro, um espaço de encontro, físico e psíquico, onde se possa desenvolver um gosto de estar. Não é preciso muito, em termos das condições físicas que, aliás, são sempre muito mais variáveis que num trabalho mais convencional. Quanto ao espaço de comunicação psíquico é útil relembrar a necessidade de tempo, sendo que a qualidade do que é dito se torna verdadeiramente central;
- o prazer de conhecer, mútuo, em que o descentrar de nós próprios por uma capacidade empática possa levar a uma reciprocidade relacional. Com muito amor e humor se constrói esse conhecimento;
- a procura de uma verdade interior, não dogmática, sem julgamento moral paralelo. Novamente volta a ser necessário estar disponível para saber receber as mensagens comunicativas do outro (por um reconhecimento objectivo, ou subjectivo, intuitivo), poder pensar sobre elas, dando-lhes um significado, e saber devolver a um nível de comunicação e adaptação razoavelmente moldado à individualidade de cada um (desde o tom de voz, às palavras, à distância ou proximidade física, por exemplo).»
Pedro Strecht, À Margem do Amor – notas sobre delinquência juvenil, 2003, Assírio & Alvim


Nativa – Rui Veloso


Don’t Get Me Wrong – The Pretenders





o livro "entre les murs" foi escrito pelo professor 
que desempenha o papel principal deste filme
eu diria que se um professor não gosta deste filme, 
não devia ser professor, não devia cuidar de crianças nem ter filhos 
enquanto não resolver os seus conflitos internos 
que bloqueiam a sua capacidade de acreditar e amar

por outro lado, também acredito que se um adulto
para fazer a vontade aos filhos e que quer divertir-se com eles
passa todo o seu tempo livre a jogar futebol ou a ir ao cinema
não é um bom modelo
pois educar bem é criar desafios cada vez mais realistas à experiência
de vida dos filhos para que eles descubram a sua capacidade ou incapacidade 
de enfrentar e resolver problemas ou sofrimento

a rapariguinha do shopping





Jorge Palma - Deixa-me Rir







Thursday 17 April 2014

not slaves





se nos amaste celebra-nos que somos como tu
não choramos escondidos do mal vamos



Do You Hear the People Sing



Wednesday 16 April 2014

Amor Retórico



Sullivan, 1953 - «Jogamos segundo as regras do jogo para preservar o nosso prestígio e a nossa sensação de superioridade e de mérito.»

Erich Fromm
«Também a descrição de Sullivan se refere à experiência da personalidade alienada e comercial do século XX. É a descrição de um egoísmo a dois, de duas pessoas a calcular os interesses que têm em comum, mantendo-se juntas face a um mundo hostil e alienado. Na verdade, esta definição de intimidade é, em princípio, válida para descrever qualquer equipa funcional, na qual todos «ajustam o seu comportamento às necessidades expressas da outra pessoa, com o objectivo de atingirem fins comuns» (é de notar que Sullivan fala aqui de necessidades expressas, quando sabemos bem que o amor implica uma reacção a necessidades não expressas entre duas pessoas).
O amor como satisfação sexual mútua e o amor como «trabalho de equipa» e como refúgio da solidão são as duas formas «normais» da desintegração do amor na sociedade contemporânea, a patologia socialmente padronizada do amor.











Le gamin au vélo




Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Para atravessar contigo o deserto do mundo


O Velho Abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas

A podridão lhe agrada e seus discursos

Têm o dom de tornar as almas mais pequenas







Angelina Jolie & Clint Eastwood
2 pessoas falam sobre o filme como se ele fosse uma oportunidade
de exibir actores e técnicas, em vez de meio de conhecimento e ajuda

os actores deixam de ser pessoas de confiança
para passarem a ser objectos de inveja



https://www.youtube.com/watch?v=khkXQye-UOY
The First Time U2
Os concertos utilizam efeitos espectaculares para tocarem mais profundamente
o público com a sua mensagem, mas podem ser interpretados como exibicionismo