Wednesday 9 April 2014

respeito






por Erich Fromm
The Art of Loving, 1956




Quero que a pessoa que amo cresça e se desenvolva por si mesma, à sua própria maneira, e não para que me venha servir. Se eu amo a outra pessoa, sinto-me unido a ele ou a ela tal como é, e não como preciso que seja, como um objecto para meu uso. É claro que o respeito só é possível se eu tiver atingido a independência; se eu conseguir levantar-me e andar sem muletas, sem ter de dominar e explorar outra pessoa. O respeito só existe com base na liberdade:
«l'amour est l'enfant de la liberté»,
como diz uma canção francesa; o amor é filho da liberdade, e nunca da dominação.

Não é possível respeitar uma pessoa sem a conhecer; o cuidado e a responsabilidade seriam cegos se não fossem guiados pelo conhecimento. O conhecimento seria inútil se não fosse motivado pela preocupação. Existem vários níveis de conhecimento; o conhecimento que faz parte do amor é aquele que não fica pela superfície mas vai até ao fundo. Isto só é possível quando sou capaz de ultrapassar a preocupação comigo mesmo e de ver a outra pessoa nos seus próprios termos.



p. 35, Pergaminho, 2008










The Last Station, Michael Hoffman 



Jonathan Swift


Gulliver




Quando consta que as amas ou as criadas de quarto entretêm as crianças com histórias extravagantes, contos insulsos, ou que lhes podem causar medo (como as aias, em Inglaterra, costumam fazer), são açoitadas publicamente, três vezes, por toda a cidade, encarceradas durante um ano e desterradas por toda a vida para o sítio mais deserto do país. Assim, naquele império, as meninas, tanto como os rapazes, envergonham-se de ser cobardes e tolas; desprezam as exterioridades e só têm em conta a decência e o asseio. Os seus exercícios são menos violentos que os dos moços e não as fazem estudar tanto; mas ensinam-lhes as ciências e as belas-letras. É máxima, entre aquele povo, que a mulher, devendo ser para seu marido uma companhia sempre agradável, necessita de ornar o espírito, que nunca envelhece.

Ao contrário dos Europeus, os Liliputianos estão persuadidos de que nada exige mais cuidado e solicitude que a educação das crianças. É fácil gerá-las, dizem eles, tão fácil como semear e plantar; mas conservar certas plantas, fazê-las desenvolver satisfatoriamente, livrá-las dos rigores do Inverno, dos ardores e trovoadas do Estio, dos ataques dos insectos, obrigá-las a produzir frutos em abundância, só o conseguem a atenção e o trabalho de um agricultor hábil.

No mestre querem ver um espírito mais disciplinado que sublime e mais morigeração* que ciência. 

Não podem suportar os professores que atordoam os ouvidos dos discípulos com a catadupa de composições gramaticais, discussões frívolas, observações pueris, e que, para lhes ensinarem a antiga língua do seu país, que muito pouca analogia tem com a que se fala hoje em dia, lhes enchem a cabeça de regras e excepções e põem de parte o uso e o exercício para lhes atulharem a memória de princípios supérfluos e preceitos dificultosos.  

...

Opinam que os mestres devem aplicar-se mais a preparar o espírito das crianças para as lutas da vida que a enriquecê-lo de conhecimentos curiosos, quase sempre inúteis. Assim, tratam logo, desde os mais tenros anos, de ensiná-las a ser prudentes e filósofas, para que, chegada a época dos prazeres, saibam saboreá-los filosoficamente.



Jonathan Swift
Viagens de Gulliver
traduzido por Maria Franco
1996, Vega









I Believe

Hypathia's Death





*morigeração - moderação no modo de viver; boa educação, bons costumes







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