no meu pensamento não se fale de tão invisível
o que digo escorre como clara agarrada
à parede limpa vidro
estrutura-cavalita outras vezes
política-tinta
mas, na verdade, não sei o que penso
não o encontro escrito nem sinto nada
que dure
estou (nem sempre) perdida no vasto da minha
experiência
arco-íris, depois da chuva que bebem as
plantas raízes
pôr-do-sol, do dia erguido não
por mim
o meu timbre, que seduz o microfone com
a língua
tijolos são o meu corpo sentado no fofinho
dos voos onde
não choro nem lhes conheço morada porque não escolho
young and beautiful
in the name of love
Durante uns dias não escrevi nada
porque, primeiro quis pensar seriamente na finalidade e no sentido de um diário.
Experimento uma sensação singular ao escrever o meu diário. Não é só por nunca
ter «escrito», suponho que, mais tarde, nem eu nem ninguém achará interesse nos
desabafos de uma rapariga de treze anos. Mas na realidade tudo isso não importa.
Apetece-me escrever e quero aliviar o meu coração de todos os pesos.
Anne Frank
tradução do holandês por Ilse Losa
Livros do Brasil
(edição com data anterior à morte de Otto Frank em 1980)
Terça-feira, 4 de Abril de 1944
...
Quero vir a ser alguém. Não me agrada a
vida que levam a mãe, a sr.ª van Daan e todas essas mulheres que trabalham
para, mais tarde, ninguém se lembrar delas. Além de um marido e de filhos,
preciso de mais alguma coisa a que me possa dedicar! Quero continuar a viver
depois da minha morte. E por isso estou tão grata a Deus que me deu a
possibilidade de desenvolver o meu espírito e de poder escrever para exprimir o
que em mim vive.
Quando escrevo, sinto um alívio, a
minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez
coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim,
espero-o de todo o meu coração! Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus
pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias.
...
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