Poema do Menino Jesus
por João dos Santos
Se Não Sabe, Porque É Que Pergunta?
Assírio & Alvim, 1988
Uma das coisas que eu ensinava na Faculdade,
quando era professor de Psicopatologia,
era que não há observação
sem que o indivíduo que observa
se coloque na posição de ser observado.
Penso que é uma verdade inquestionável
e extremamente importante.
Para que eu possa observar uma criança
e portanto ajudá-la e amá-la,
é preciso que me coloque em situação
de ser observado por ela.
E não sei o que é mais importante,
se é a criança ser olhada,
(não é só ser olhada, é ser «vista»)
se é ver o outro.
Na educação mais primitiva, noutras civilizações,
noutras culturas, e até mesmo na Grécia
- onde a educação era muito severa,
onde as crianças eram castigadas
se não aprendiam a ler e a escrever como devia de ser,
se não aprendiam a tocar lira
- mesmo nessas culturas,
creio que havia um contacto directo com as pessoas.
Eu acredito muito na função educativa da sociedade.
Quando a sociedade, a família, o clã, o grupo de amigos,
de pessoas da vila, da aldeia, do bairro
não estão interessados na educação da criança,
não há escola nenhuma que funcione.
A escola só por si não faz sentido.
Só faz sentido como local onde se aprendem certas coisas.
Mas o que há de essencial na cultura,
que é a relação entre as pessoas,
tem que se aprender a todos os níveis do convívio.
...
É evidente para mim, como psicólogo da infância,
que uma criança de cinco anos sabe tudo da vida,
sabe o essencial, sabe amar, sabe falar, sabe retribuir,
sabe trocar, sabe dar e receber afecto.
https://www.youtube.com/watch?v=rOez2mFNk2s
Come Hell or High Water
«Quando a sociedade no decurso da História se complica
e perde o contacto com a educação da criança,
quando institucionaliza, ou melhor,
quando sacraliza a educação em estabelecimentos de clausura,
o diálogo perde-se,
o regulamento impõe-se,
o silêncio paira sobre o mal estar da criança,
a violência instala-se!
A tendência actual de instituir uma educação oficial
a partir do berço conduz inevitavelmente
à violência da sociedade contra as crianças,
dos adultos contra as crianças,
das crianças contra os adultos,
da criança contra a escola,
da escola e das autoridades contra a criança.»
João dos Santos
Ensaios sobre Educação II
Livros Horizonte, 1983
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