Wednesday 12 March 2014

basta bastA basTA baSTA bASTA BASTA









João Sousa Monteiro

A escola acaba por convencer as crianças,
e até mesmo os pais e uma parte da sociedade,
que pensar é fazer aquelas coisas que põem os miúdos a fazer;
é saber a gramática,
é saber fazer contas,
é saber resolver problemas,
é saber de cor uma quantidade interminável de coisas 
que não interessavam realmente nada.

A ideia de que pensar e saber é isso, é extremamente nociva,
é prejudicial, julgo eu.
O pior serviço que a escola pode prestar a uma criança 
é acabar por convencê-la de que isso é saber pensar,
de que fazer isso «bem feito» é ser inteligente.
É absurdo a ideia de que um miúdo que tenha boas notas na escola
é um miúdo que sabe pensar!
Só por acaso é que é assim.

João dos Santos

Claro, pode acontecer que seja.
A pessoa mais prodigiosa que encontrei nesse campo, que eu achei que era genial, 
foi uma menina que andava no 2º ano do ciclo preparatório, portanto já adiantada,
que tinha umas notas muito baixas em português e levaram-na ao meu serviço 
por esse motivo. E eu pus-me a pensar se percebia a menina...

JSM

... que é uma coisa que a escola nunca faz!
A escola não está lá para perceber, está lá só para «ensinar»...

JS

E eu então pus-me a conversar com ela,
e a certa altura, como ela trazia o saco dos livros da escola,
pedi-lhe para me mostrar os livros, e ela trazia o livro de leitura,
e então havia um texto dum autor contemporâneo que tratava de qualquer coisa campestre,
e eu pedi-lhe para ela ler aquele texto
e para me contar a história verbalmente.
Ela contou-me muito bem, eu percebi bem a história 
e depois conversámos sobre o que se dizia nessa história 
e duns rios lá da terra dos pais,
e disse coisas muito bonitas e muito poéticas 
sobre a casa de jantar que dava para um vale
e no vale passavam carros e camionetas... 
Já não me lembro precisamente, mas era uma coisa muito bela. 
E depois disse-lhe:
então agora escreves isso, vais contar a história por escrito.
E na história por escrito, que tinha uma folhinha daquelas pequenas, 
de caderno da escola, tinha, sei lá, umas dez linhas de letra larga, 
ela realmente contava a história 
de uma maneira extremamente fria 
e quase destituída de conteúdo.
E eu pus-me a conversar com ela sobre o texto que ela tinha acabado de escrever 
e verifiquei que naquelas dez ou doze linhas de letra larga, 
havia pelo menos cinco palavras de que ela não sabia o significado, 
mas isso não se percebia, porque ela punha as palavras no sítio devido. 
E eram palavras como «águia», «chaparro», «floresta», «bosque»... palavras assim. 
Tenho a ideia de que ela julgava que bosque era um campo relvado, por exemplo.
E eu fiquei espantado perante aquele prodígio,
como se fica perante um tipo que salta não sei quantos metros em altura, à vara,
que é uma coisa que eu gosto muito de ver, ou que faz o triplo salto,
ou que vence a corrida dos 2000 metros ou a maratona...
fiquei assim perante um prodígio daqueles...
como quando vou ao circo ver fazer habilidades,
fiquei surpreendido.
Como é que uma criança pode ser tão capaz, tão capaz,
que consegue fazer um pequeno texto sobre uma coisa, 
não conhecendo cinco palavras
Por um lado é uma perversão total, inconcebível, 
mas por outro lado, o esforço daquela criatura é genial.
Aquilo poderia ter aí ao todo 50 palavras diferentes, se tanto,
e ela desconhecia cinco, e todas bem colocadas como se as conhecesse.
Ela devia ter cinco ou seis, ou talvez sete sobre vinte, 
não sei bem qual era a classificação daquela época, isto já foi há bastantes anos,
mas ela merecia vinte e tal!
Porque realmente é um prodígio fazer uma coisa daquelas...





















































http://www.assirio.pt/livros/ficha/se-nao-sabe-porque-e-que-pergunta-?id=11236861















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